13: Brasília
Maria acordou com o barulho do ônibus. Ela nunca conseguia dormir direito, então ficava cochilando como uma torneira frouxa pingando. Não era possível dormir mais que um sono raso e leve naquele ônibus. O barulho era insuportável, aquele estilo de automóvel desqualificado e velho desde sua origem, feito de ferro de baixa qualidade sem segurança de transporte para pessoas. O famoso pau de arara. Celina acordou do seu sono profundo no colo de Edgar:
-Estamos aonde, hein?
-Chegando meu bem...
-Chegando? Mentira dele, falta uma eternidade. Olha pra esse lugar. Vamos chegar lá nunca!
Se bem que a poeira fazia uma onda marrom avermelhada bonita da janela, o vidro ficava sujo pelas beiradas. Quando chovia, as sujeiras das bordas pingavam no rosto e sujava a roupa. Mas ninguém pensava nisso, porque ainda não tinha chegado chuva. Nem chuva, nem Brasília.
-Estamos no Goiás. Vamos beber água meu amor.
-Deixa eu pegar minhas coisas.
Os dois desceram na rua e beberam água. As malas eram uma poluição visual das janelas. As pessoas pareciam mal cuidadas, sem banho e descabeladas pelo sono. As crianças tinhas as bocas sujas de peta e o cheiro do café dos motoristas pairava no ar fazendo inveja em todos. Pode não estar na época de celular e ar condicionado, mas no Brasil sempre vai ter na história o querido café. Oi café!!
Vários buracos, duas reclamações, banheiro, água e café. Buraco, estrada, estrada, café, estrada, sono, reclamação, lençol cai no chão, estrada, sono, pista.
-Pista!
-Pista!
-Pista! Olha...
Brasília era uma cidade nova. Eles saíram do Brejo Paraibano, um lugar úmido que quando chovia durava 3 dias seguidos, para um planalto sem umidade. Chegando na cidade a mata era o campo limpo característico do Cerrado. Uma grama queimada de Sol, suja de poeira, alcançando a cintura de uma pessoa alta. Urtigas, unhas de gato, flores espinhosas roxas que chamam a atenção no meio da mata amarelo queimado. São pequenas, mas bonitinhas. Lourdes olhava para a mata e via sem prestar atenção nos detalhes. Mas prestava muita atenção nos detalhes das pessoas.
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