2: Morfologia paraibana
Então amanheceu. Era terça feira e a mãe Sara iria lavar roupa. Lourdes estava na cama enrolada nas fronhas finas e brancas. Tampava a metade do rosto, por mania, com o seu lençol especial o qual usava todas as noites. Olhava de rabo de olho pela janela meio distante para ver o Sol.
Aquela era terça feira, dia de lavar roupa. Lourdes levantou primeiro e foi fazer xixi no mato. Saiu de casa acompanhada de sua mãe carregando um balde água para lavar a boca. Usavam escova de dentes e pasta de juá, do Juazeiro. Juá era raspas da madeira da árvore que se usava como matéria prima de sabão, detergente e xampu. Era muita gente, quando as pastas de dente industriais acabavam demorava para comprar outra. O dinheiro que vinha era das plantações de algodão e agave. Agave é um tipo de planta que faz corda de sisal e da raiz se faz tequila, dependendo da espécie.
Voltaram e foram para a mesa de café da manhã. Cada uma sentava numa cadeira ou no chão, nos bancos de madeira compridos da sala. Na mesa cabia a panela de cuscuz, a leiteira, o bule do café com raspas de rapadura, o famoso açúcar preto. Tinha manteiga caseira feita da nata. Sara que fazia.
As meninas saíram para lavar a roupa. Alguns meninos saíram para trabalhar na roça com o pai. O açude de água, poço gigante, ficava longe. Elas iam de pé com as bacias de roupa na cabeça. Sua mãe lavava as roupas e as crianças brincavam na água. Os meninos mais pequenos iam também.
José ensinava Lourdes a nadar. Era fundo no meio, não dava pé. Tinha uns metros abaixo. Ele segurava na mão dele e batia as pernas. Iam juntos de um lado para outro do açude.
Depois que Sara lavou todas as roupas, as crianças saíram correndo com o chinelo molhado batendo no barro fazendo lama na sola do pé. Foram na frente da mãe brigando e brincando de mamãe e filhinha, cantando cantigas e apostas de quem iria ser a mulher do padre.
Chegando em casa foram subir no pé de pau e cuidar dos passarinhos. Sua mãe tirou o feijão do fogo. Não tinha panela de pressão, era tudo na panela de barro. O feijão ficava a manhã toda na lenha. Não comiam arroz, era raro. O almoço era servido às 11 horas: carne e feijão, farinha de mandioca. A mãe dava de comer às crianças primeiro, depois ia até os trabalhadores.
Quem cuidava das crianças quando a mãe estava fora? Lourdes, a mais velha.
A época era de chuva. O lugar onde habitava se chamava brejo, o nome específico das áreas mais úmidas da Caatinga. Ali, o regime de chuvas é mais elevado.
Costuma-se dizer que antigamente chovia mais no Nordeste. Não se sabe ao certo de quanto em quanto tempo ocorre o fenômeno El Niño, nem sabemos as reais proporções dos desequilíbrios ambientais, mas naquela época chovia mais no Nordeste.
Ademais, o solo massapé é fértil, pois há grande concentração de minerais, típico dos lugares em que encontramos escudos cristalinos, uma estrutura geológica mais antiga na Terra. Diferente da terra do Cerrado, quando chove por um tempo considerável no solo massapé, a água fica retida por mais ou menos um mês. Isso tudo colabora positivamente para a agricultura local. Isso tudo colaborou positivamente para a vida da família de Lourdes e os negócios de seu pai. Apesar disso, essa região é conhecida no Brasil por sua escassez de água. Muitas vezes se passam até mesmo anos sem chover.
Ademais, o solo massapé é fértil, pois há grande concentração de minerais, típico dos lugares em que encontramos escudos cristalinos, uma estrutura geológica mais antiga na Terra. Diferente da terra do Cerrado, quando chove por um tempo considerável no solo massapé, a água fica retida por mais ou menos um mês. Isso tudo colabora positivamente para a agricultura local. Isso tudo colaborou positivamente para a vida da família de Lourdes e os negócios de seu pai. Apesar disso, essa região é conhecida no Brasil por sua escassez de água. Muitas vezes se passam até mesmo anos sem chover.
Em Lagoa de Roça, o sítio da família Ferreira Amorim era grande. Intercalava-se áreas desertificadas pelo mal uso do solo, e plantações de feijão e algodão. Esse lar possuía gado em abundância, galinheiro e árvores esparsas. Pé de tangerina, mangueira e caju. Juazeiro, cactos e mato. Cobra, lagarto e sapo-cururu. Canil dos cachorros, terreiro de passarinho e casa de pau à pique. As paredes da casa eram de madeira e barro, pintadas e com telhado; o chão era de cimento queimado. Um perigo evidente era o barbeiro, que vive nesses ambientes de madeira, nos buracos das paredes. Ele carrega o protozoário que causa a doença de Chagas, que circula pelo sangue podendo se alojar em qualquer lugar, se no coração, incha-o. Enfim, doença perigosa.
Seu pai não era pobre. Os meninos eram gordinhos. A mãe era mulher de poucas palavras e calma. Costurava roupa de boneca com a máquina de mão - lembro-me até hoje do dia em que eu e a minha mãe destruímos uma dessa no quintal da minha avó 60 anos depois, foi muito engraçado.
Aquela era terça feira, dia de lavar roupa. Lourdes levantou primeiro e foi fazer xixi no mato. Saiu de casa acompanhada de sua mãe carregando um balde água para lavar a boca. Usavam escova de dentes e pasta de juá, do Juazeiro. Juá era raspas da madeira da árvore que se usava como matéria prima de sabão, detergente e xampu. Era muita gente, quando as pastas de dente industriais acabavam demorava para comprar outra. O dinheiro que vinha era das plantações de algodão e agave. Agave é um tipo de planta que faz corda de sisal e da raiz se faz tequila, dependendo da espécie.
Voltaram e foram para a mesa de café da manhã. Cada uma sentava numa cadeira ou no chão, nos bancos de madeira compridos da sala. Na mesa cabia a panela de cuscuz, a leiteira, o bule do café com raspas de rapadura, o famoso açúcar preto. Tinha manteiga caseira feita da nata. Sara que fazia.
As meninas saíram para lavar a roupa. Alguns meninos saíram para trabalhar na roça com o pai. O açude de água, poço gigante, ficava longe. Elas iam de pé com as bacias de roupa na cabeça. Sua mãe lavava as roupas e as crianças brincavam na água. Os meninos mais pequenos iam também.
José ensinava Lourdes a nadar. Era fundo no meio, não dava pé. Tinha uns metros abaixo. Ele segurava na mão dele e batia as pernas. Iam juntos de um lado para outro do açude.
Depois que Sara lavou todas as roupas, as crianças saíram correndo com o chinelo molhado batendo no barro fazendo lama na sola do pé. Foram na frente da mãe brigando e brincando de mamãe e filhinha, cantando cantigas e apostas de quem iria ser a mulher do padre.
Chegando em casa foram subir no pé de pau e cuidar dos passarinhos. Sua mãe tirou o feijão do fogo. Não tinha panela de pressão, era tudo na panela de barro. O feijão ficava a manhã toda na lenha. Não comiam arroz, era raro. O almoço era servido às 11 horas: carne e feijão, farinha de mandioca. A mãe dava de comer às crianças primeiro, depois ia até os trabalhadores.
Quem cuidava das crianças quando a mãe estava fora? Lourdes, a mais velha.
Parabéns! Linda homenagem!
ResponderExcluirJá vi que vou me emocionar muito por aqui!!!!!!
ResponderExcluirQue lindo, Sara!
ResponderExcluirVou ler sempre! Adoro fatos reais com riqueza de detalhes, parabéns!
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