21: Sétima casa
Passados 2 anos e 6 meses, o visto venceu. Elas não podiam ficar mais em Roma. Arrumaram suas coisas e pegaram o avião. Foi uma despedida triste. Lilian era criança, mas também cuidava das crianças das casas que Lourdes trabalhava, como a Haruka, filha do senhor Suzuki. Um bebê lindo e carinhoso que chamava a Lilian de Di.
Quando chegaram no Brasil, demorou apenas um pouco para achar um lugar para ficar. Haviam parentes e Lourdes logo conseguiu emprego. Muitas famílias ricas vinham para morar na capital em expansão, haviam muitas oportunidades de emprego como empregada doméstica e cozinheira.
Deixam Roma para trás de um dia para outro, com uma lembrança gostosa no peito... Foi uma ruptura brusca e repentina como todas as outras. Nas malas, todas as lembranças. Todas as figurinhas, todas as toalhas, todos os biscoitos, todas as revistas, todos os áudios, a mala. Sim, a mala também ficou. Ficou no aeroporto. A sacola ficou no carro. A unica coisa que veio inteira foi Lilian. Foi dolorido esse adeus, arrancado adeus. Arrancado como os outros adeus arrancados.
Enfim Lourdes conseguiu comprar uma casa. Era um terreno de 300 reis numa fazenda repartida. Era uma vila extremamente distante da Asa Sul, vila de São Sebastião. Não havia nada na estrada para lá, apenas terra no meio de uma densa floresta do cerrado. O terreno era grande e ficava próximo a uma fábrica de tijolos. O solo era muito úmido e jorrava água da fonte em vários cantos, formando uma casa também para sapos. Era uma cantoria.
Algumas casas também estavam sendo construídas, formando um novo visual para a pequena Vila. As casas ficavam muito distantes umas das outras, mas haviam terrenos que eram colados um no outro. Lourdes mandou construir sua casa ao lado da sua irmã Carminha e do outro lado era o terreno onde Lázaro construiu a sua casa. Na frente, construiu Ana e moram ali até o dia de hoje.
Todos os três trabalhavam juntos no Lago Sul, na mansão de uma família japonesa. Lázaro era motorista, Lourdes cozinhava e Carminha limpava. Carminha era filha de Jacinta e é a irmã mais próxima de Lourdes juntamente com Celina. Outras filhas de Jacinta vieram tempos depois para Brasília. Os três trabalharam muitos anos naquela casa japonesa, até que Lourdes, por alguns conflitos básicos mudou de casa. Lilian continuou, onde fez amizades que duram até o dia de hoje.
Na sua rua morava Alessandra. Elas eram melhores amigas na escola Perpétuo Socorro, onde haviam apenas freiras professoras bravas. Elas também tinham a amizade da Rúbia, uma menina negra com um sorriso enorme e um espírito alegremente inabalável.
Eles eram grandes amigos e conheceram posteriormente os irmãos da Alessandra, alguns garotos como o Perninha (eu não sei o nome dele de verdade e acho que a maioria esqueceu) e a turma ia crescendo como uma novela da globo, Malhação.
Estudou em boas escolas particulares para freiras até chegar no ensino médio, onde teria a infelicidade de perder a sua bolsa. Então decidiu trabalhar para valer. Não apenas cuidava das filhas ou limpava a casa para pagar seus estudos, mas partiu para um emprego em um supermercado.
Nessa época Lourdes começou a trabalhar na casa de uma moça chamada Regina, a última casa que trabalharia. Ela era esposa do ex-presidente do Banco Central, falecido recentemente. Viu os três filhos deles crescerem desde pequenos e cozinhou muitas comidas chiques naquela casa.
Lilian morava todos os dias em São Sebastião, mas Lourdes ficava apenas nos finais de semana, por ser muito longe. Todos os outros dias dormia na casa da Dona Regina.
Enquanto isso, Nena fazia faculdade de Biologia no Centro Universitário de Brasília. Nessa fase todos eram jovens e aproveitavam muito a juventude brasiliense como verdadeiros brasileiros.
A família Ferreira de Amorim havia crescido e muitos dos irmãos estavam com seus filhos grandes totalizando uns 30 adolescentes juntos todos os finais de semana.
Certa vez ela encontrou na W3 sul uma mulher chamada Fátima.
-Você é a cara do Bigode.
-Quem?
-Bigode, seu pai. Eu vou te apresentar para seu pai.
-Meu pai era Valdivino.
-Não, seu pai é o Bigode.
Então começa a saga na cidade do ipê amarelo.
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