Flecha

 Ela já tinha pegado o voo. Agora não tinha como voltar atrás. Ela decidiu. Estava voando para bem longe, sozinha, apenas acompanhada de uma mala e meia coragem. A sensação era que alguém a olhava atrás de si e ela tinha decidido ignorar.

   Seria mais um ano longe de casa, contra a vontade dos pais. Ela iria evangelizar em um país onde ela era a única cristã. Ela iria correr o risco de não voltar mais, mas era preciso. Se não eu, quem? 

   Então pegou sua caneta e seu papel de sempre. 

   

   "Os filhos são flechas. Eles são flechas quando na mão de homens poderosos. Sorte de quem tem a aljava cheio delas. As flechas foram feitas para voar e voar muito longe. Não são para ficarem no pé ou cair bem perto. Quem tem uma dela nas mão estica o seu arco na altura certa, até o fim, segura firme com toda a força de seus braços e a solta. Não apenas a solta, como a faz cair exatamente no alvo. Isso é muito difícil. 

   Eu sou sua flecha. Você é o meu arco. Infelizmente, você não me lançou. Mas eu estou voando agora, estou indo para bem longe, direto no alvo. Isso é bem difícil. 

   Quem me lançou foi Ele. Ele foi o meu arco quando você estava na aljava. Mas não deixe isso te abalar, somos guerreiros. Guerreiros lutam até o fim da guerra, até alcançarem a vitória. Verás que a sua flecha não foge à luta, nem teme que O adore até a morte. 

   Eu estou do seu lado. Não significa que não estou mais perto de você. Todas as semanas, não coma por um dia. Todos os dias não durma por uma hora. Esteja comigo. Ore comigo, fale com Ele sobre mim. Seja arco, eu serei flecha. Seja forte, eu serei firme. Seja mãe, nós seremos filhas. Seremos Suas filhas, Suas flechas, seus soldados.

   Será nossa a vitória, sim. Será nossa. Sabe porquê? Porque fomos nós que lutamos. Fomos nós que voamos. Fomos a flecha do alvo. Mas sabe quem eu sou sem arco? Eu não sou nada além de uma flecha parada em uma aljava. Eu preciso de um arco. Eu preciso de você agora.''