Roteiro

A enfermeira me disse que eu teria que continuar com a agulha na veia, pois poderia ser que eu ainda precisasse de outra medicação. 30 minutos. 45 minutos. O médico me chamou pelo nome. Eu não precisava mais de nada. 

A parte sensível do braço onde se dão injeções que eu procurei saber se tem um nome e não achei, então o referirei aqui como a parte sensível do braço onde se dão injeções, é como a vida diante do futuro: fina, hesitante e transparente ao que se esconde (no caso, as veias). Estas, como canais que levam para o restante do corpo/tempo o que acontece em poucos segundos. Não muito resistente ao que há de vir (pele), manipulada por comandos não destituídos de medo (sinapses).

Tem agulhas, eventos do grande espaco amostral que é a vida, que demoram alguns minutos dentro de nós. 30 dias. 45 anos. Injetam desejos, pessoas, empregos, materias, vazios em nossas veias para que percorrra todo nosso tempo.

Não tem como escrever um roteiro para o futuro. Somos tão impotentes ao que pode acontecer como a parte sensível do braço onde se dão injeções. Existem planos e perspectivas, mas a vida segue como bem quer. Corpos em movimento à mercê da inércia (eu e você) não temos dominância suficientes para palpitar sobre o que não sabemos.

Infinitas vezes tentei planejar um diálogo, um momento, uma reação, uma história com fatos e consequências. Por mais próximo da realidade e da probabilidade de acerto que eu tenha chegado a pensar, o futuro continua sendo um roteiro em branco e antiaderente a adivinhações.

A propósito, odeio injeções.

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