Em pó

Sou um livro. Um livro não, O livro. Estou dentro de um armário, na segunda prateleira, o terceiro da esquerda para a direita, azul celeste com o título em branco fonte NewYorkTimesUsouNo11deSetembro, bem chamativo. Só estou lá porque vou sair na foto. Vai ser o fundo dela, na verdade. Tenho 785 páginas fora o prefácio, 12.
O vizinho: clichê romântico, só de ver a capa já dá para adivinhar o final. 
O vizinho do vizinho: nem sei se é um livro, as pessoas pintam ele. (?)
O vizinho da esquerda: Um dicionário francês/português e português/francês marrom. Combina com a minha capa. Deve ser por isso que está do meu lado. 
Na prateleira, enfileiradinhos.
De repente dou um grito. A pessoa me olha.
 "Por que não me cheira? Por que não dá uma olhada nas minhas orelhas? Por que não lê o primeiro capítulo só? Talvez te agrade. Mas esse seu espírito preguiçoso e negligente vai é fazer você dormir em cima de mim."
Ele não devia ter incitado intriga... Quando você começa a conversa com carinho e mostra para a pessoa que a entende, ela te aceita. No caso, o livro errou. Voltou para a prateleira. Nunca mais foi aberto ou tocado. Perdeu a única grande chance de ser lido.
Depois a menina da foto postou a foto com o livro no fundo e a surpresa... O FUNDO ESTAVA DESFOCADO!


A crônica do livro azul celeste em pó.

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