Epílogo final
O livro Maria Ferreira Gomes causa profunda emoção e desenvolvimento no começo, mas termina com uma rotina acelerada e falha de dados históricos. Omissões graves da narrativa. Um romance que passa rápido em cima das emoções que prendem o leitor a leitura. Um sentimento de frustração do livro absolutamente simples e desprofissionalizado. Insatisfação, esperava mais. Um livro qualquer... Mais um livro nas livrarias que falam de clichês juvenis: preciso escrever um livro para realizar meu sonho de vida, além de plantar uma árvore!
Não.
Esse livro revela o que senti ao ouvir a história da minha avó. A história que contamos nunca será a história vivida. A história que eu ouvi da minha avó não é a história dela. A minha avó contou a reação dela aos fatos. Ela esboçou suas cicatrizes curadas e não vimos seu sangue e suor. Não vimos as lágrimas, vimos apenas as palavras de uma mulher que no passado chorou. E se recuperou. Por trás dessas palavras existe uma pessoa que superou a falta da mãe, o ser irmã mais velha, mas assumir o papel de mãe. Existe uma mulher sem carinho e afeto, uma mulher de não teve infância e educação dignas para uma cidadã. Uma mulher de ouro misturado no aluvião. Uma mulher que teve 2 filhas e seu amor verdadeiro assassinado por um ônibus veloz. Ah, quão veloz. Tudo passou tão rápido nas páginas dos livros quanto as frases da história da minha avó. Frases curtas, comentários da vida. Notas pequenas sem comentários. A biografia de uma vida inteira.
Empregada doméstica, pobre paraibana, viajante de pé e pau de arara. Mulher, senhora. Senhora sem senhor. Senhora com O SENHOR.
A verdade é que eu passei 20 anos ao lado dessa mulher, mas eu só pude colher pequenos cuspes da sua história. Ainda por cima, não pude escrever sobre tudo. Eu poderia dizer que escrever uma biografia é absolutamente difícil, porque existem pessoas vivas que fazem parte das histórias e elas são as vilãs. Pessoas que são da minha família ou deram sua vida para cuidar de alguém enquanto os maltratavam como fazem os inimigos. Pessoas que erraram e hoje são amigas. Poderia dizer que Maria também errou. Poderia sim.
Eu poderia dedicar 3 anos em entrevistar minha avó para escrever cada detalhe da vida dela e contar para vocês com frases no tom de Machado de Assis ou Graciliano Ramos, mas não posso. Não posso, pois no final eu iria chegar a conclusão que por mais bem contada que fosse a história ninguém nunca vai viver a vida que minha avó viveu. Ninguém nunca vai entender. Lidamos com feridas curadas. A única coisa que posso dizer é que por trás dessa mulher de ferro existe um grande espaço vazio. No interior dessa boneca de ferro existe um oco. Esse oco é definitivamente o descarte perpétuo de todo o mal que a corrompeu. O perdão esquece e apaga.
Minha avó é ferro anti-oxidável. Ela escolheu não se corromper com sua própria ferrugem. Ela não apagou sua história, mas me descreveu da mesma forma que a escreveu. Firme, cheio de perdão e reconciliação. Soluções.
Desfrutem desse livro curto, rápido, insuficiente, oco e anti-oxidável: Maria Ferreira Gomes.
PS: Você precisa de duas coisas para viver para sempre: sua consciência e O Senhor.
Não.
Esse livro revela o que senti ao ouvir a história da minha avó. A história que contamos nunca será a história vivida. A história que eu ouvi da minha avó não é a história dela. A minha avó contou a reação dela aos fatos. Ela esboçou suas cicatrizes curadas e não vimos seu sangue e suor. Não vimos as lágrimas, vimos apenas as palavras de uma mulher que no passado chorou. E se recuperou. Por trás dessas palavras existe uma pessoa que superou a falta da mãe, o ser irmã mais velha, mas assumir o papel de mãe. Existe uma mulher sem carinho e afeto, uma mulher de não teve infância e educação dignas para uma cidadã. Uma mulher de ouro misturado no aluvião. Uma mulher que teve 2 filhas e seu amor verdadeiro assassinado por um ônibus veloz. Ah, quão veloz. Tudo passou tão rápido nas páginas dos livros quanto as frases da história da minha avó. Frases curtas, comentários da vida. Notas pequenas sem comentários. A biografia de uma vida inteira.
Empregada doméstica, pobre paraibana, viajante de pé e pau de arara. Mulher, senhora. Senhora sem senhor. Senhora com O SENHOR.
A verdade é que eu passei 20 anos ao lado dessa mulher, mas eu só pude colher pequenos cuspes da sua história. Ainda por cima, não pude escrever sobre tudo. Eu poderia dizer que escrever uma biografia é absolutamente difícil, porque existem pessoas vivas que fazem parte das histórias e elas são as vilãs. Pessoas que são da minha família ou deram sua vida para cuidar de alguém enquanto os maltratavam como fazem os inimigos. Pessoas que erraram e hoje são amigas. Poderia dizer que Maria também errou. Poderia sim.
Eu poderia dedicar 3 anos em entrevistar minha avó para escrever cada detalhe da vida dela e contar para vocês com frases no tom de Machado de Assis ou Graciliano Ramos, mas não posso. Não posso, pois no final eu iria chegar a conclusão que por mais bem contada que fosse a história ninguém nunca vai viver a vida que minha avó viveu. Ninguém nunca vai entender. Lidamos com feridas curadas. A única coisa que posso dizer é que por trás dessa mulher de ferro existe um grande espaço vazio. No interior dessa boneca de ferro existe um oco. Esse oco é definitivamente o descarte perpétuo de todo o mal que a corrompeu. O perdão esquece e apaga.
Minha avó é ferro anti-oxidável. Ela escolheu não se corromper com sua própria ferrugem. Ela não apagou sua história, mas me descreveu da mesma forma que a escreveu. Firme, cheio de perdão e reconciliação. Soluções.
Desfrutem desse livro curto, rápido, insuficiente, oco e anti-oxidável: Maria Ferreira Gomes.
PS: Você precisa de duas coisas para viver para sempre: sua consciência e O Senhor.
Parabéns Sara Sampaio.
ResponderExcluir